Como surgiu a consciência?

Alexandre Magno Teles
10 min readSep 2, 2016

Esta é uma pergunta difícil. Prepotência achar que podemos respondê-la assim, tão diretamente, como se fosse uma resposta simples. Deveria ser. Não é a primeira vez que para grandes questões que pareciam complexas uma única resposta simples explicava vários fenômenos numa tacada só.

Vou aqui tentar me aproximar mais desta questão que me instiga desde quando me conheço por este ser humaninho e que não encontrava na religião o conforto de questionar sobre questões fundamentais como esta.

Já tentei chegar na raiz desta questão, e descobri que se pudesse chegar pelas pontas, buscando na física, na química, na psicologia e até mesmo nas questões espirituais e filosóficas poderia obter uma pista. A busca espiritual não entrou neste estudo como crenças que respondia estas questões de forma divina e confortava esta dúvida, mas vale o estudo de filosofias espirituais como fenômenos responsáveis por responder de forma irredutível a estas questões de modo a acabar com nossa inquietude e acalmar nosso ser. O homem criou o famoso: “Deus quis assim”, e ponto final.

Um autor que desconhecia me ofereceu um livro que me aguçou na incumbência de tentar achar uma resposta. Ele não caiu nas minhas mãos por acaso. No livro Consciousness in four dimensions (Consciência em 4 dimensões), do Richard M. Pico, ele relaciona conceitos da relatividade nos processos biológicos, que afinal, para se chegar na solidificação da consciência como resposta científica e concreta, nada melhor para entendê-la na ciência onde reside a origem da vida, a tal da Biologia. Afinal, da vida veio a consciência, ou é o que me parece a princípio.

Depois de tentar entender sob diversas perspectivas: física, química, biológica e psicologia, a resposta desta pergunta chega a outra pergunta: O que é a consciência?

Precisamos saber em que momento x aconteceu o limiar da vida e como a partir dela, em um outro momento brotou a consciência, o eu, o ser capaz de ser ciente de si e a partir daí ter a sensação que esse ser não se cessa. Mas sabemos que a partir do momento que ele percebe que é uma chama cessante que acaba com a morte, ele cria para dentro de si uma idéia extrapolada do físico para explorar o imaginativo, e questiona se este imaginativo perdura até a eternidade.

Somos mentes escravas do nosso corpo, sujeito a processos físicos, biológicos e químicos, que nos transformam numa dimensão relativa de espaço-tempo, que afeta na duração isolada de cada processo químico. Uma reação favorável alcança um nível de complexidade juntamente com outros processos químicos, que juntos formam uma complexidade maior no espaço-tempo que chega até o nível dos seres vivos. Esta é basicamente a relação relativista com a biologia que pude absorver deste livro, e faz todo sentido.

O ser humano emergiu a consciência a partir da evolução de processos celulares, únicos, independentes, que por si só não é capaz de chegar na dimensão de uma consciência pensante. A célula é um ser vivo e um conjunto delas forma um ser consciente. O ser consciente não precisa pensar para ter cada componente seu isolado agindo em prol da sua sobrevivência. Isto é automático. O tempo que ele tem é para pensar, e até mesmo pensar em como estes processos acontecem tão magicamente no seu corpo.

Apesar de explicar com maestria como esses processos acontecem, a ciência ainda está longe de descobrir o que está por trás disto, e prefere dizer que não há nada por trás disto e ficar com estas lacunas não respondidas, no mesmo nível que os que se apóiam nas crenças direcionam a resposta a um criador, e assim está respondida a questão e não precisamos mais nos questionar e podemos dormir tranquilo. Infelizmente ou felizmente eu ainda não durmo tranquilo me perguntando de onde vem todo esse pensamento e criatividade de formar questões e sentidos acerca da vida e da nossa existência.

A consciência surge a partir de uma dimensão que rege o controle dos impulsos nervosos e das complexas variáveis envolvidas no tempo de vida relativo de cada categoria do universo celular. A partir de um novo tipo de célula, resultado de uma diferenciação de outrem, como o neurônio, os seres foram capazes de controlar funções vitais mais complexas através de impulsos elétricos e estímulos nervosos e sensoriais, que levaram o homem a pensar.

Neurônio: uma célula diferenciada capaz de gerenciar um ser vivo

Temos, por exemplo, o zigoto: a unidade celular do ser humano, a nossa semente. A partir dela, será carregado um único DNA durante toda sua vida, a não ser que este novo ser sofra de uma mutação, que poderá afetar sentidos e até mesmo provocar alterações na forma do ser. Fora isto, ele é a sua programação e carrega consigo tudo que você é atualmente.

Sabemos que substâncias químicas podem alterar a consciência humana, mostrando que, de fato, o homem é controlado pelas reações ocorridas na membranas nervosas e sinapses em ordem de nano volts que altera estados de consciência. Mas o quão profundo a consciência pode ser alterada? No quão profundo da consciência inclusive reside o tal do subconsciente, que falarei posteriormente. Por enquanto, vamos nos ater a biologia zigótica.

O zigoto sabe automaticamente como se tornar um ser humano. Ele segue um ciclo de vida no espaço-tempo relativo ao que conhecemos hoje como os tempos de gestação, infância, adolescência e fase adulta.

O Zigoto é a semente do ser humano, única forma capaz de gerar um ser humano consciente

Mesmo com todas estas informações que adquirimos como humanos durante toda nossa história, onde está exatamente o ponto que iniciou o fenômeno onde eu e você nos encontramos agora?

Não costumamos lembrar da nossa primeira lembrança. Temos uma forma física de armazenamento que tentamos reproduzir nas nossas máquinas que criamos para o mundo e diferentes tipos de memória. Porém, nossas criações computacionais são binárias, e nós seres humanos somos dotados de um hardware orgânico muito bem construído e não sabemos por quem. Temos em nosso hardware um lugar profundo, ou a sensação de existir um lugar chamado inconsciente. Todas as teorias da mente vão cair no inconsciente, apesar de não ser possível provar sua existência.

Este lugar escondido abaixo da consciência não é uma dimensão além da consciência. Nem sabemos ao certo quem nasceu primeiro. O inconsciente é um campo onde teorias elaboradas ainda deixam dúvidas por não quantificar suas medidas. Não há reações elétricas responsáveis pelo fluxo de energia entre diferentes regiões dos neurônios que justifiquem um inconsciente.

Então chegamos ao ponto em que um modelo de insconsciente não pode ser aplicado enquanto ciência. Porém, através dos sonhos, conseguimos de certa forma sentir um pouco da experiência direta que o inconsciente nos provoca. Uma experiência pessoal no espaço tempo. Diferente de uma bola que jogamos num rio e vemos as ondas serem geradas, visões dos sonhos e suas leis próprias e seres criados pela nossa mente tem sua própria existência no nosso espaço-tempo ilusório. Na verdade é questionável se os processos oníricos possui uma dimensão temporal.

Ainda assim, com todo processo químico e biológico que a gente já conhece acerca da formação do ser vivo, não há resposta que diga em que momento e como o zigoto, nas suas diferentes diferenciações começa a ser uma consciência. Sem entrar no mérito aqui da questão sobre o aborto.

Podemos dizer que a vida começa no primeiro neurônio. Isto acontece em algum momento da nossa gestação. Não lembramos deste dia, nem sabemos a partir de qual momento a memória pode ser gravada de forma permanente no nosso disco rígido químico e assim este primeiro lapso de memória fica armazenado.

Enquanto um computador tem a capacidade de realizar processos abstratos matemáticos, criados pelo próprio ser humano, e até sendo superior a ele em algumas tarefas, esta capacidade no homem surgiu das adaptações do próprio ambiente. Estamos criando subprodutos de nós mesmos e somos resultado de um produto do ambiente, um produto maior que não temos acesso, e não podemos afirmar nem que existe algo maior além do universo que nos cerca. Nossa consciência é colocada num momento ínfimo do espaço-tempo sem que em condições normais possamos alterar isto.

Com a relatividade, os processos biológicos podem ser alterados no espaço e a noção de tempo pelo qual estamos submetidos se altera.

Realizar este efeito relativístico num único elétron, que é uma entidade química mínima (não entramos no mérito aqui das subdivisões do elétron), é possível acelerar em até 99.999999% a velocidade da luz. Já numa coordenação de células em um ser multicelular isto se torna extremamente difícil para assim podermos perceber diretamente os efeitos da relatividade no corpo. No entanto, sabemos a um nível microscópico que o tempo se curva diante da luz em cada matéria que percorre um espaço. Com a gente não seria diferente. A idéia de dilatação do tempo traz a tona também questões da consciência e como nos deparamos em relação ao tempo.

Difícil chegar onde a consciência surgiu mesmo tentando encontrar a resposta por todas as “beiradas”. Sabemos que a evolução deu passos que nos deixaram respostas por uma humanidade.

Tudo isto, no entanto pode ter começado de forma interior. E depois nas coisas que armazenamos internamente e mudamos na forma como nos comunicamos para externalizar nossos pensamentos. A escrita e a leitura foram decisivas para o homem começar a gravar suas histórias e consolidar a consciência. No entanto, para nos comunicarmos, precisamos de algum modo e meio. Uma das mais conhecidas é a linguagem.

Ainda não podemos dizer que a linguagem é o primeiro insumo da consciência, mas ela guarda muitos segredos. Não é possível determinar se externalizamos primeiro, ou internalizamos o pensamento. Nós pensamos antes de falar. Embora temos a percepção de que as vezes falamos sem pensar, em diferentes situações, muitas vezes institivas em que as palavras “brotam” sem a gente perceber por que dissemos isto ou aquilo. Existem muitos processos químicos e físicos orquestrados para gerar este pensamento, que abstraímos numa decisão.

Caímos aqui, em outra questão mais primordial da consciência:

De onde vem nossos processos decisórios a nível de neurônios?

Não estou perguntando aqui sobre como os neurônios na sua comunicação em rede, de forma avançada (há teorias de que ele funciona como um computador quântico) transforma processos físicos em sensações, decisões e pensamentos diversos.

A questão é onde está a camada do pensamento. E, se ela existe de fato e não é uma mera ilusão. Onde ela reside nas categorias na qual conhecemos sobre nosso redor, ou se fazem parte de outra categoria desconhecida. Há quem diga que o pensamento faz parte de uma outra dimensão.

Podemos ser seres do espaço que agarrou sua calda no espaço tempo, vivendo sua própria realidade, sendo capaz de questionar sobre nós mesmos, como estou fazendo aqui agora, tentando chegar na sua origem, ou até mesmo se possível acessar sua primeira memória. É possível? A memória se altera com o ambiente como um HD orgânico. A diferença é que nosso cérebro depende de condições do ambiente que vão além das físicas e químicas. Nossa memória foge ao nosso controle. Métodos como hipnose tenta chegar aos primórdios das nossas lembranças, mas ainda não é possível afirmar se elas realmente remetem a uma experiência remota, pois uma experiência acontece uma única vez por unidade de tempo no referencial do consciente pessoal. Não podemos provar para o mundo algo que veio do nosso mundo interior.

Podemos aplicar este raciocínio ao sonho. Não podemos afirmar na ciência que a lembrança de um sonho foi algo que realmente aconteceu no meu passado, pois nada mostra como processos químicos, biológicos e físicos conseguem se combinar novamente, totalmente orquestrados, sobre como agir novamente e mudar um sentido já estabelecido anteriormente.

O universo interior de cada um é tão vasto, ou melhor, tem a capacidade para ser o que podemos pensar. Ele pode ser compartilhado em muitos novos elementos formados no nosso subconsciente e manifestado por fenômenos oníricos, ilusões, delírios e até em desenhos que mostram que o homem usou suas primeiras ferramentas disponíveis para retratar medos e conquistas universais através da comunicação primitiva. Isto passou a fazer parte do nosso ser, e assim como células formaram organismos, opiniões formaram culturas, e assim como células se tornam cancerígenas, culturas se tornaram genocídios. A consciência por si só passou a trabalhar em conjunto e deu lugar a um organismo consciente baseado na interação e comunicação entre pessoas e povos.

O Jung foi o primeiro a abordar uma idéia de inconsciente coletivo que revolucionou a Psicologia

Assim como a história contada plantou uma semente em nossas mentes sobre o nascimento do mundo, acessamos um inconsciente “transcendente” e que por enquanto só existe em nossas mentes, que inicialmente parece não ter ligação nenhuma com outro ser vivo, mas que analisando melhor como fiz aqui, ela passa a ser pensada como algo relativamente conectado em uma rede de pensamentos universais. Seguindo este raciocínio, a origem da consciência fica ainda mais profunda, não apenas na internalização individual do ser humano, mas algo anterior a sua existência, universal, que surgiu como um processo da própria natureza e que somos subprodutos que não conseguem alcançar a sua criação, e quanto mais tentamos, chegamos a resultados esquisitos até mesmo para a ciência moderna, que se viu entre uma dualidade onda-partícula da luz se colapsar em um estado simplesmente por que foi “conscientizado” por algum agente medidor.

De onde surgiu a consciência? Não cheguei nesta resposta que me propus a falar sobre, mas espero ter instigado ainda mais esta pergunta para que ela não seja respondida de forma redutível a crenças e até mesmo a descrenças. Esclarecer do que estamos falando para pensar melhor numa resposta é a base para se pensar em prosseguir com um dos maiores mistérios da humanidade. Nem por isto vou correr desta resposta e nem limitar meu ser a glorificar a ciência por explicar todo o processo evolutivo, e nem a atribuir o divino que nele está a resposta e eu deva ficar calado. Sigo tentando…

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Alexandre Magno Teles

Citizen Scientist and Software Engineer, looking for the limits beyond mind and machine exploring the world